segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fausto


Mefitofeles veio me visitar esses dias, sentou-se em minha poltrona, acariciou o meu gato, tomou de meus vinhos, como sempre esteve a vontade, como se fosse um bom amigo, ou um estimado irmão.
Estendeu sua mão sobre minha mesa e deste movimento fez surgir um contrato, riqueza financeira, prazeres carnais, uma saúde impecável, conhecimentos vastos, uma memória eidetica e a ausência total da alma, do medo, da culpa e do desespero.
Ofereci mais vinho...
Já havia lhe vendido muitas almas, agora ele queria a minha, riu-se da facilidade com que eu conquisto as pessoas para então trai-las, esquece-las... Mefistofeles me conhece, alias é o único que me conhece, mesmo sem saber a minha real opinião sobre tudo isso, ou sobre qualquer coisa, afinal, quem realmente sabe?
Por eras minha vida foi prolongada, tudo o que eu tenho conquistei as custas das almas de outros, hoje é a minha que está em questão. Ri de mim mesmo e de minha situação, enrolei o diabo, mas sabendo que seria um dia condenado... e quanto mais enrolava, mais a pena aumentava. Se foram os amigos, se foram os familiares, mas Mefisto ficou, Mefistofoles cá está.
Ele se levanta, caminha em frente a minha estante, passando os dedos sobre as lombadas dos mesmos sem desviar o olhar do meu, quer me sondar, descobrir se aceitarei o contrato, ou continuarei vivendo por mais uma era, ao invés de limitar a minha vida. A Eternidade sim é terrivel, esta na terra, aquela no inferno, seja qual eu escolher somente sendo mortal eu amarei, o que ele oferece não é a libertação, ou o que eu não tenho, mas algo que eu nunca tive sem perder os bens materiais que acumulei.
Comedia, de Dante, da minha estante para as mãos dele, ri-se da imaginação do italiano, mas admite que a mim estaria reservado o último círculo do inferno, não por ter traído, mas por ter amado, se caso eu aceitasse os termos daquele contrato.
Não... Não vale a pena...
Continuarei na terra, experimentarei as conas e não o amor...